Inovação e cooperação impulsionam a descarbonização do transporte

Inovação e cooperação impulsionam a descarbonização do transporte

Durante o 10º Fórum CNT de Debates, especialistas da Anfavea, Petrobras, Viação Santa Cruz, Bravo e ANTT debatem caminhos para acelerar a transição energética

Com foco em estratégias colaborativas para acelerar a transição energética, o painel “Soluções Tecnológicas e Inovação para a Descarbonização” reuniu lideranças da indústria automotiva, do setor de combustíveis e do modal rodoviário de passageiros e de cargas durante o 10º Fórum CNT de Debates, em Brasília, no dia 23 de outubro. O encontro promoveu uma análise integrada sobre os avanços tecnológicos e os desafios operacionais e regulatórios que influenciam o processo de descarbonização do transporte no país.

Moderado por Cynthia Ruas Vieira Brayer, superintendente de Sustentabilidade, Pessoas e Inovação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), o painel destacou a importância da cooperação entre os setores público e privado para viabilizar soluções sustentáveis, eficientes e economicamente viáveis. “Mais do que simplesmente descarbonizar, precisamos trazer soluções práticas para nossa realidade atual”, afirmou Cynthia na abertura do debate.

A superintendente ressaltou o papel da inovação e das soluções tecnológicas como pilares para a descarbonização do transporte. Ao reunir representantes da indústria automotiva, do transporte de passageiros e de cargas e da Petrobras, ela reforçou que a transição energética exige múltiplas frentes de atuação e coordenação entre Estado e setor produtivo. Segundo Cynthia, a ANTT tem papel estratégico na articulação de políticas públicas e na criação de instrumentos regulatórios que viabilizem a sustentabilidade nos contratos de concessão, com parâmetros de desempenho e incentivos à adoção de tecnologias limpas.

Entre as iniciativas citadas, estão o programa de sustentabilidade da Agência, atualmente em consulta pública, e o primeiro corredor logístico sustentável multimodal do país, implantado na BR-277 (Paranaguá–Curitiba), em parceria com o Ministério dos Transportes e a concessionária EPR. A proposta, segundo ela, é promover soluções integradas que vão além da eletrificação, incorporando práticas como o uso do free flow, a redução de frenagens e a valorização da paisagem como parte do conceito de sustentabilidade.

Representando a indústria automotiva, Igor Calvet (Anfavea) apresentou os investimentos do setor em pesquisa e desenvolvimento por meio do programa Mobilidade Verde (Mover), que já mobilizou bilhões em créditos financeiros. Ele defendeu a neutralidade tecnológica como princípio estratégico e apontou a renovação de frota como política pública essencial para reduzir emissões e melhorar a saúde pública. “Descarbonizar via renovação de frota é tão essencial não só para o meio ambiente, como também para a saúde. Isso precisa estar no debate público”, destacou. Segundo Igor, o Brasil já possui uma das frotas mais limpas do mundo, considerando sua matriz energética e o ciclo completo dos veículos.

Na sequência, Rodrigo Abramof (Petrobras) explicou as diferenças entre o biodiesel e o diesel com conteúdo renovável, ressaltando que ambos são complementares e utilizam a mesma matéria-prima. Ele apresentou os avanços da empresa na produção de combustíveis sustentáveis, como o diesel R5 e o SAF por coprocessamento, já disponíveis em cinco refinarias. “A grande diferença está no processo. O diesel com conteúdo renovável, por hidrogenação, tem estabilidade e desempenho iguais ao diesel mineral. Só um teste de carbono-14 consegue distingui-los”, explicou.

Abramof também anunciou a construção de uma planta dedicada em Cubatão (SP), com previsão de operação em 2030, capaz de produzir combustíveis 100% renováveis. “É um investimento de US$ 1 bilhão que vai permitir produzir diesel verde ou SAF, conforme a demanda do mercado.”

Já Francisco Mazon (Viação Santa Cruz) compartilhou a experiência da empresa com o uso de biometano em ônibus rodoviários, em parceria com a Scania. Os testes iniciais apontam desempenho equivalente ao diesel, mas ainda enfrentam desafios relacionados ao custo da infraestrutura e à autonomia dos veículos. “O biometano tem potencial para transformar um problema social (o lixo) em solução ambiental. Visitei uma usina em Campinas (SP) e vi que até 95% do lixo pode ser reaproveitado”, relatou. Ele também mencionou limitações técnicas, como o peso dos cilindros e o impacto na capacidade de bagagem, que ainda precisam ser superadas para que o modelo ganhe escala.

Enquanto Mazon apresentou a visão do transporte de passageiros, Marcos Vilela Ribeiro (Bravo Serviços Logísticos) abordou as iniciativas voltadas ao transporte de cargas. O CEO destacou a estratégia da empresa para reduzir sua pegada de carbono, que inclui diagnóstico com o protocolo GHG, revisão da malha logística e investimentos em biometano. A Bravo instalou um posto off-grid em Paulínia (SP) e adquiriu 23 caminhões movidos a gás renovável, alcançando até 90% de redução de emissões em rotas curtas.

“A primeira transformação foi entender que precisamos mudar. Se quisermos perpetuar nosso negócio, teremos que agir de forma diferente”, afirmou. Marcos também ressaltou a importância da capacitação de motoristas e da estabilidade regulatória para viabilizar investimentos de longo prazo. “Estamos investindo em algo que tem impacto nos próximos dez ou 15 anos. Precisamos de regras claras e políticas públicas que permitam isso.”

Encerrando o painel, Cynthia Ruas Vieira Brayer reforçou que a transição energética no transporte depende de uma atuação conjunta entre governo, iniciativa privada e sociedade. Para ela, o avanço das tecnologias e das práticas sustentáveis precisa estar acompanhado de mecanismos de financiamento e políticas públicas que garantam escala e continuidade.

“A gente está falando de um sistema de logística, então não tem como fazer o trabalho sozinho. É uma rede, é um sistema, é um trabalho coordenado e cooperativo. Cada um está fazendo uma parte desse trabalho. E, quando você gira, tudo volta ao dinheiro. É caro, mas também vai trazer benefícios de eficiência na produção, eficiência energética e bem-estar para a sociedade. No final, a gente precisa pensar em como vamos financiar, ou seja, em como vamos trazer os recursos mais adequados para construir esse futuro mais rapidamente”, concluiu.

A décima edição do Fórum CNT de Debates contou com o patrocínio de Dunlop, Embarca, Fepasc (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros dos Estados do Paraná e Santa Catarina) e Abralog (Associação Brasileira de Logística).

Fonte: CNT / Foto: Divulgação

Compartilhar

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on skype
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Share on print

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Encontre no portal

Categoria

Últimos posts

Tags

Newsletters

Receba novidades

Inovação e cooperação impulsionam a descarbonização do transporte

Compartilhar

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on skype
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Share on print

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Encontre no postal

Categoria

Últimos posts

Convenção Coletiva 2013/2015

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2013/2015NÚMERO DE REGISTRO NO MTE: SP005206/2013DATA DE REGISTRO NO MTE: 16/05/2013NÚMERO DA SOLICITAÇÃO: MR023328/2013NÚMERO DO PROCESSO: 46268.001282/2013-55DATA DO PROTOCOLO: 15/05/2013 SIND DOS CONDUTORES DE VEIC ROD E ANEXOS

Leina na íntegra »

Tags

Newsletters

Receba novidades

Utilizamos seus dados para analisar e personalizar nossos conteúdos e anúncios durante a sua navegação em nossa plataforma e em serviços de nossos integradores. Ao navegar pelo site, você autoriza a SETCARP a coletar tais informações e utilizá-las para estas finalidades. Em caso de dúvidas, acesse nossa Política LGPD

Permito o uso de cookies para: